terça-feira, 22 de maio de 2012

O meu avô materno, que conhecia mal as letras, e que também mal as juntava, fruto de um tempo onde o trabalho infantil não era visto como uma exploração, e a escola e a instrução eram tidas como desnecessárias, era um dos melhores contadores de histórias que conheci. E não só...
Ainda hoje dou por mim a reproduzir os vários destrava línguas que ele nos ensinava (a mim e à minha irmã). Nos dias de inverno, à volta do calor da salamandra, era um desenrolar de ladainhas que ainda hoje perduram no meio pensamento e que não esqueci.
Entre as histórias de bruxas  a dançar, do cão Mondego que caçava cobras, das feiças de trigo e apanha de grão de bico noite fora 8que de dia fazia muito calor), ficam estas três, contadas por quem passou um ou dia na escola, mas que tinha uma consciência fonológica perfeita.
-Dizia o professor: como se lê " um P, um A e U"? (pau)
- Resposta pronta do aluno, "Lenha"

- Como é que se lê um N e um U (nu)
_ D'emplão , respondia ele, utilizando uma expressão tipicamente alentejana, que significa totalmente despido.

- Pergunta o professor, como se lê o "S, um A, um C e um O?" (saco).
Mais uma expressão tipicamente alentejana - "Talego, responde o aluno.

E claro, com tão pouco apego pela escola, pelas regras, e sem haver reguadas que o vergassem, lá saiu da escola, cheio de sabedoria popular, de conhecimento linguístico e vocabular, que tanto me entretiveram, fizeram sonhar e tantas bases de português e de leitura me deram...

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