domingo, 4 de março de 2012

"Acordo ortographico"

"Acordo ortographico"

No semanário Sol de 17 de Fevereiro, página 3, José António Saraiva assinou um texto que tem por título Acordo ortographico, do qual aqui transcrevemos algumas passagens, pelo interesse que tem neste retomar da discussão sobre a pertinência do Acordo Ortográfico, em grande medida desencadeado pelo poeta Vasco Graça Moura.
"Quando o Acordo Ortográfico foi assinado, em 1990, numa cerimónia no Palácio da Ajuda, o jornalista Francisco Bélard escreveu uma notícia com muita graça na qual utilizava um grande número de palavras que iriam mudar a ortografia.A ideia era brilhante e o resultado expressivo: a notícia causava enorme estranheza, revelando-se mesmo de muito difícil leitura. Quem a lesse não precisava de mais nada para, naquele preciso momento, se tornar um adversário acérrimo do Acordo Ortográfico (...)A onda era essa - e convenci-me de que o meu pai (autor de uma História da Literatura Portuguesa) também teria a mesma atitude (...) Foi, pois, com a maior surpresa que (...) o ouvi dizer:- A oposição ao Acordo Ortográfico é um enorme disparate. O nosso grande património é termos uma língua comum com o Brasil, com Angola, com Moçambique... Tudo o que pudermos fazer para aproximarmos a grafia uns dos outros é decisivo para nós. Perante isso, não tem qualquer interesse discutir chinesices, como a escrita desta e daquela palavra.Esta posição, assumida com a maior convicção, mudou o meu modo de olhar para o Acordo (...).É óbvio que não entrarei em discussões técnicas com Vasco Graça Moura ou qualquer outro especialista. Eles saberão certamente muito mais do que eu. Só que a questão essencial não é essa.O essencial não é discutir o resultado - é admitir que são úteis todos os esforços que se façam no sentido de os países onde a língua oficial é o português aproximarem as grafias. E são especialmente importantes para nós, portugueses. Portugal tem 10 milhões de habitantes - mas o Brasil tem 200 milhões. Só por arrogância ou por capricho se pode defender que devemos ficar ad aeternum agarrados às nossas regras. O nosso papel deverá ser mesmo o oposto: levar os países que ainda não adoptaram o Acordo, a fazê-lo rapidamente.O que vale aqui é o princípio. É termos permanentemente na cabeça a ideia de que todos ganham se em Portugal, no Brasil, em Angola, em Moçambique, em São Tomé, em Cabo Verde, na Guiné e em Timor se escrever do mesmo modo.Alegar razões de 'consciência' para rejeitar o Acordo é simplesmente ridículo: a ortografia não envolve princípios nem valores (...). A escrita é uma convenção - e mexe essencialmente com o hábito. Por isso a resistência à mudança é sobretudo um problema de conservadorismo (...)A verdade é que, quando falamos em defender a 'língua de Camões', esquecemo-nos de que o poeta assinava Luiz de Camoens." José António Saraiva
(da autoria do blog “de rerum natura”)

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