domingo, 15 de abril de 2012


A escrita


Ler e escrever foram sempre consideradas as competências por excelência. São conhecidas as dificuldades de grande parte da população escolar portuguesa na expressão escrita. A escrita não será ensinável?

Maria Luísa Álvares Pereira, num artigo da Revista Noesis, 59, p.41, “Viver a Escrita em Português”, refere que “A escrita esgotou-se durante anos num ritual bem nosso conhecido e que […] consistia em fazer aos alunos propostas de escrita sobre determinados temas, limitando-se o professor a avaliar (com mais ou menos anotações) o produto final. […] [A escrita] não estava sujeita a um trabalho sistemático e instrumentando.”

Neste sentido, vale a pena refletir sobre um comentário de Fernanda Irene Fonseca em Gramática e Pragmática - Estudos de Linguística Aplicada ao Ensino do Português, quando, acerca da aquisição da competência da escrita, diz: "Por que é que os alunos não aprendem a escrever? Atrevo-me a responder, sabendo embora que incorro no exagero inerente a todas as generalizações: não aprendem a escrever pela razão simples de que, na escola, não se ensina a escrever."
Em primeiro lugar, é preciso acabar com o individualismo didático reinante nas escolas. A oficina de escrita deve ser o resultado de um trabalho de equipa formada por todos os docentes. Só assim se obtêm resultados.
Em segundo lugar, passa por textos planificados, escritos e reescritos em estreita interacção com os professores e, por vezes, com a colaboração de amigos.
[...] Pretende-se que se aprofundem os mecanismos progressivamente mais complexos da planificação, textualização e revisão dos diversos textos. É importante que, nesta fase, a escrita esteja subjacente a qualquer tipo de pensamento, comunicação e aprendizagem. O objetivo passará por usar a diversidade sintática na produção escrita, fomentar a revisão e a autocorreção, usar a pontuação de acordo com o que se pretende, organizar parágrafos de forma e extensão apropriados, estabelecendo entre eles relações lógicas, e, finalmente, escrever com correção ortográfica.

Para alcançar o atrás mencionado, os alunos poderão recorrer ao uso de dicionários, gramáticas, prontuários, corretores ortográficos, em suporte convencional ou digital. Deve ainda favorecer-se a utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação como ferramenta de aprendizagem e recurso documental para acesso à informação.

Nesta sequência, sugerem-se as seguintes atividades que podem conduzir à escrita:
• Turbilhão de ideias (fluência e flexibilidade de ideias, expressão livre).
• Jogo linguístico com palavras (romper o sentido unívoco da palavra, torná-la nova, reinventá-la).
• Desmontagem de frases (combinar de outro modo os elementos da frase).
• Leitura recreativa de imagens (traduzir uma imagem em mil palavras).
• Flexibilização mental (elaborar um discurso com sentido e organização sobre um objecto).
• Projetos vitais (planificar trabalhos a longo prazo ou planificação escrita de projectos de trabalho).
• Metaforização analógica (comparar o incomparável, ex: uma rã com um carro).
• Relax imaginativo (deixar correr o pensamento, sonhar acordado).
• Imitação transformativa (produzir anedotas, palavras de ordem, slogans publicitários, quadros cómicos, a partir de um modelo real).
• Completamento de frases, textos ou continuação da história.
• Reescrita do texto, transformando, por completo, a fisionomia de uma personagem.
• Ordenação lógica de um texto apresentado de forma desordenada.
• Diálogos ou comentários escritos sobre programas televisivos.
• Descrição de acontecimentos.
• Trabalhos intensivos (redação aberta, manipulação de textos, ditado, espaços em branco, comentário de texto, correção de texto).
• Trabalhos extensivos (trabalhos por tarefas – project work – oficina da escrita, entrevistas).
• Formulação de perguntas/questionários sobre textos lidos ou ouvidos.
• Escrita orientada (narração, descrição, exposição).

Desta forma, surge uma diversidade de tipologia de textos, contribuindo para o reforço da autonomia, da consciência crítica e da criatividade do aluno.
                                                                                     

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