domingo, 29 de abril de 2012
sábado, 28 de abril de 2012

quinta-feira, 26 de abril de 2012
No meio de discursos mais ou menos políticos, mais ou menos críticos relativamente ao políticos que já nos governaram ao longo destes 38 anos, que ouvia na sessão extraordinária da assembleia municipal, lembrei-me da minha escola primária (era assim que se chamava). Para além do derrube do muro que separava os sexos, uma das minhas lembranças mais nítidas desse tempo é a da fogueira que os professores fizeram com uma pilha de livros. Tinha 8 anos, não sei exatamente quais eram estes livros, mas tal como no antes do 25 de abril, também estes, no pós 25 de abril foram censurados e queimados. Quando vejo imagens do tempo da inquisição, quase sempre associo (vá-se lá saber porquê!...) àquela imagem que me ficou de menina com 8 anos.
Ainda hoje, recordo um dos livros , que por estar no cimo daquela grande pilha, saltava à vista de quem olhava: "Um fim de semana na Gorongosa"... Que crime terá cometido aquele livro, e outros, para serem condenados à pena da fogueira? Possivelmente falar de um território de Moçambique, uma das ex-colónias.
Ainda bem que já ultrapassamos este tempo, mas é preciso ter memória, é preciso não esquecer qual o verdadeiro significado da liberdade, para que erros como os cometidos naquela época de excessos não voltem a acontecer.
E um dia, um dia qualquer, ainda hei-de encontrar e ler esse livro, da minha recordação de infância...
quarta-feira, 25 de abril de 2012
Se toda a gente vai à escola, se toda a gente sabe ler...
No justamente famoso artigo "A Política e a Língua Inglesa", publicado por George Orwell em 1946 e que agora podemos ler em português na pequena antologia por mim organizada e traduzida para a Antígona (Por Que Escrevo e outros ensaios), podemos ler estas palavras:
"O grande inimigo da linguagem clara é a insinceridade. Quando há um hiato entre os nossos verdadeiros objectivos e os objectivos declarados, voltamo-nos como que instintivamente para as palavras longas e para as expressões gastas, como um choco a largar tinta."
Esta parece-me uma observação lúcida, e muitas vezes acertada. O próprio Orwell dá como exemplo extremo deste fenómeno a seguinte passagem:
"Apesar de conceder de bom grado que o regime soviético exibe certas características que o humanitário pode sentir-se inclinado a deplorar, temos, penso, de concordar que uma certa limitação do direito a fazer oposição política é um concomitante inevitável de períodos de transição, e que os rigores que o povo russo foi chamado a suportar foram amplamente justificados na esfera do que concretamente se alcançou."
Todo este palavreado, afirma Orwell, quer apenas dizer "Defendo que se deve matar os oponentes quando se consegue com isso bons resultados". Como esta última afirmação custa a engolir, e como o próprio autor é incapaz de a admitir para si mesmo, é incapaz de a exprimir com clareza e precisão. O fenómeno foi mais tarde apontado por Stanislas Andreski, no livro de 1972 Social Sciences as Sorcery, denunciando a prática académica de escrever de maneira esquisita para dar a aparência de cientificidade ao puro vento. O exemplo dele é este:
Para aqueles cujos papéis envolviam primariamente a execução de serviços, por oposição à assunção de responsabilidades de liderança, o padrão básico parece ter sido uma resposta às obrigações invocadas pela liderança que eram concomitantes ao estatuto de membro na comunidade societal e em várias das suas unidades segmentadas. A analogia moderna mais próxima é o serviço militar executado por um cidadão comum, excepto que o líder da burocracia egípcia não precisava de uma emergência especial para evocar obrigações legítimas.
Esta estranha passagem quer apenas dizer que no antigo Egipto as pessoas comuns podiam ser recrutadas para trabalhar. Poder-se-ia pensar que este caso é apenas um exemplo de academismo, mas do meu ponto de vista o diagnóstico de Orwell aplica-se-lhe ainda, pois o academismo resulta da falta de sinceridade, que nos impede de admitir perante nós mesmos e perante os outros que o nosso trabalho é bastante modesto e de limitado alcance.
Hoje comemora-se em Portugal os 38 anos da revolução que, sob a iniciativa de corajosos e honestos capitães e soldados, e com o apoio comovente e civilizado da população de Lisboa, pôs fim a uma ditadura cujo discurso se caracterizava precisamente pelo lodo gramatical e pelas palavras grandiosas que ocultavam a verdade das coisas: no país não havia liberdade. Não a havia porque não havia coisas muito simples, como o direito de uma pessoa publicar as ideias que lhe apetecesse num jornal ou num livro; porque uma pessoa não podia ensinar o que quisesse; porque uma pessoa não podia fundar um partido de oposição democrática e pacífica, tentando ganhar o poder por via de eleições universais. Estas eram as coisas óbvias e simples; mas se formos ler o discurso político da altura, estas coisas óbvias e simples perdem-se no mar de palavras que sugerem que, apesar de todas as aparências, vivíamos na verdadeira liberdade, porque a verdadeira liberdade era outra coisa.
O regime foi-se, e não lhe guardo saudades, apesar de reconhecer a quem lhas guarda o direito de o fazer. Mas o que ficou foi o tique linguístico da expressão turva, que faz quem defende o contrário da liberdade continuar a dizer que a verdadeira liberdade é o poder de uns imporem aos outros o que estes não querem e têm o direito de não querer.
POSTED BY DESIDÉRIO MURCHO
"O grande inimigo da linguagem clara é a insinceridade. Quando há um hiato entre os nossos verdadeiros objectivos e os objectivos declarados, voltamo-nos como que instintivamente para as palavras longas e para as expressões gastas, como um choco a largar tinta."Esta parece-me uma observação lúcida, e muitas vezes acertada. O próprio Orwell dá como exemplo extremo deste fenómeno a seguinte passagem:
"Apesar de conceder de bom grado que o regime soviético exibe certas características que o humanitário pode sentir-se inclinado a deplorar, temos, penso, de concordar que uma certa limitação do direito a fazer oposição política é um concomitante inevitável de períodos de transição, e que os rigores que o povo russo foi chamado a suportar foram amplamente justificados na esfera do que concretamente se alcançou."Todo este palavreado, afirma Orwell, quer apenas dizer "Defendo que se deve matar os oponentes quando se consegue com isso bons resultados". Como esta última afirmação custa a engolir, e como o próprio autor é incapaz de a admitir para si mesmo, é incapaz de a exprimir com clareza e precisão. O fenómeno foi mais tarde apontado por Stanislas Andreski, no livro de 1972 Social Sciences as Sorcery, denunciando a prática académica de escrever de maneira esquisita para dar a aparência de cientificidade ao puro vento. O exemplo dele é este:
Para aqueles cujos papéis envolviam primariamente a execução de serviços, por oposição à assunção de responsabilidades de liderança, o padrão básico parece ter sido uma resposta às obrigações invocadas pela liderança que eram concomitantes ao estatuto de membro na comunidade societal e em várias das suas unidades segmentadas. A analogia moderna mais próxima é o serviço militar executado por um cidadão comum, excepto que o líder da burocracia egípcia não precisava de uma emergência especial para evocar obrigações legítimas.Esta estranha passagem quer apenas dizer que no antigo Egipto as pessoas comuns podiam ser recrutadas para trabalhar. Poder-se-ia pensar que este caso é apenas um exemplo de academismo, mas do meu ponto de vista o diagnóstico de Orwell aplica-se-lhe ainda, pois o academismo resulta da falta de sinceridade, que nos impede de admitir perante nós mesmos e perante os outros que o nosso trabalho é bastante modesto e de limitado alcance.
Hoje comemora-se em Portugal os 38 anos da revolução que, sob a iniciativa de corajosos e honestos capitães e soldados, e com o apoio comovente e civilizado da população de Lisboa, pôs fim a uma ditadura cujo discurso se caracterizava precisamente pelo lodo gramatical e pelas palavras grandiosas que ocultavam a verdade das coisas: no país não havia liberdade. Não a havia porque não havia coisas muito simples, como o direito de uma pessoa publicar as ideias que lhe apetecesse num jornal ou num livro; porque uma pessoa não podia ensinar o que quisesse; porque uma pessoa não podia fundar um partido de oposição democrática e pacífica, tentando ganhar o poder por via de eleições universais. Estas eram as coisas óbvias e simples; mas se formos ler o discurso político da altura, estas coisas óbvias e simples perdem-se no mar de palavras que sugerem que, apesar de todas as aparências, vivíamos na verdadeira liberdade, porque a verdadeira liberdade era outra coisa.
O regime foi-se, e não lhe guardo saudades, apesar de reconhecer a quem lhas guarda o direito de o fazer. Mas o que ficou foi o tique linguístico da expressão turva, que faz quem defende o contrário da liberdade continuar a dizer que a verdadeira liberdade é o poder de uns imporem aos outros o que estes não querem e têm o direito de não querer.
A Educação como condição de liberdade
O que nos deve ser pedido hoje, como os educadores face a um mal-estar, que incomoda?
Que eduquemos, é uma resposta. Estamos, como sempre estivemos, obrigados ao dever de educar.
Mas no momento, precisamos de transformar esta expressão simples numa ideia forte. Forte, no sentido que lhe dá Kant na Fundamentação da Metafísica dos Costumes, que é necessário um constrangimento, uma vontade, para que a não intervenção, quase transformada em regra, não sufoque esse dever.
O que terá acontecido para que tal dever tenha enfraquecido, perdido a convicção nos princípios, nas finalidades, nos processos que o concretizam? Ao nível dos princípios, a contextualização e circunstancialização, estendida até aos limites, relativizaram todos e quaisquer imperativos educativos, debilitaram-nos ou esvaziaram-nos. A valorização do sujeito, finalidade (e essência) da educação, passou a ter um significado pragmático e profissionalizante, afastando-se dum projecto de aperfeiçoamento, perdeu profundidade. Quanto aos processos didácticos, embora apregodamente apoiados em excelentes tecnologias, foram afastando objectivos e conteúdos, sobretudo os que se afiguram (por quem?) mais nobres.
Enfim, a educação, como obrigação dos educadores, enfraqueceu, quer, como socialização, na linha de Durkheim, quer como formação pessoal, no sentido que lhe dá Mounier. Isto, na convicção de que os aprendizes são intelectual e moralmente autónomos.
Ora, a autonomia não é uma condição prévia mas um objectivo a alcançar, pelo que é preciso (re)começar a educar e aí persistir, sistemática e generalizadamente; caso contrário a liberdade, essa condição de livre arbítrio que concretiza o que de mais humando existe, em potência, no ser humano estará condenada.
O problema da liberdade e da educação não encontra solução fora desta esfera, que se arrisca a rodar no vazio. Descontrolada por ausência de pontos de fixação: onde deveria haver segurança e estabilidade reina a indeterminação, a apreensão, até, a negligência e, vezes demais, a interferência de intentos alheios… É preciso apelar ao conhecimento mas, sobretudo, e antes de mais, à convicção.
Mas, onde ir buscar a convicção uma vez imposta a debilidade de princípios e a negação de finalidades educativas? Nesta dupla interrogação, como se justificam as escolhas e se determinem as acções de quem tem ou deveria ter o dever de educar?
Estamos numa situação de impasse: oscilamos entre uma tese e uma antítese sem vislumbre de síntese salvadora. Mas talvez ela exista, e talvez possa ser recuperada pela liberdade que os educadores têm de conduzir aos desígnios da liberdade aqueles que lhe estão confiados.
Existindo, admitamos, uma multiplicidade de “bens”, ela não dispensa uma hierarquia, o que obriga à consideração de um bem maior para o qual todos os outros concorrem. Estão, pois, os educadores destinados a escolher, elegendo ou rejeitando. Para tanto, é necessário que conheçam, para julgarem e fazerem juízos para, em cada instante, decidirem.
Quem se identifica como educador, tem de ser capaz de perseguir intentos que concorram para a liberdade. E, ainda que seja assaltado por dúvidas sobre o seu sentido e amplitude não há grandes dúvidas de que ela depende, em grande parte, do tipo e da qualidade de educação que se proporciana a cada um e a todos, para alcançar a vontade autónoma.
Antes de ser o que poderá ser, a liberdade é o acto que se cumpre segundo uma ideia, uma inteligência orientada para um desígnio, pessoal e colectivo. Isto tem que ser aprendido, exercitado e interiorizado até alcançar o estatuto de princípios de acção, pelo que é preciso (re)encontrar os princípios educativos, que lhe dão conteúdo e consistência.
Aos que têm hoje responsabilidades educativas compete, portanto, a difícil tarefa de transformar (de novo) a educação num dever. É a única via, se querermos homens livres, isto é, moralmente responsáveis.
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João Boavida
Acordo Ortográfico
Com base de apoio às atividades realizadas os alunos consultaram sempre que necessário o "Acordo ortográfico com bonecos".
Acordo ortográfico com bonecos
25 de Abril ou 25 de abril?
Para recordar o 25 de Abril de 1974, que tal observar este pequeno vídeo e ouvir a canção que deu início à revolução " Grândola vila morena" de Zeca Afonso.
É importante recordar
terça-feira, 24 de abril de 2012
Soneto 71

Deste poeta, um soneto retirado de um livro extraordinário: Os sonetos de Shakespeare: versão integral bilingue, traduzido por Vasco Graça Moura (Círculo de Leitores, 2011, página 153).
Não chores mais por mim quando eu morrer
do que ouças sino lúgubre que diz
aviso ao mundo de que eu fui viver,
ido do mundo vil, com vermes vis.
Nem o ler deste verso te recorde
a mão que o escreveu, pois te amo tanto,
que em teu doce pensar eu não acorde
se o pensar em mim te causar pranto.
Ou se (digo eu) olhares esta linha,
quando eu já for (talvez) lama abatida,
não repitas o nome que eu já tinha
e caia o teu amor com a minha vida.
Se não o mundo ao ver-te em luto pôr
há-de troçar de ti quando eu me for.
segunda-feira, 23 de abril de 2012
Totalmente?
Empréstimo de manuais
Reflexão sobre ficha aplicada- Novo Acordo Ortográfico
A propósito dos interesses dos alunos
Teoria
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Pressupostos
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Exemplo
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Implicações
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Teoria do interesse
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O interesse no conteúdo ou tema prediz o
rendimento. Recorrer a detalhes sedutores na instrução não aumentará o
rendimento do estudante.
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Eu trabalho bastante porque valorizo o assunto,
ele é importante para mim.
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Desenvolver os conteúdos em grandes projetos
que sejam interessantes para os alunos.
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Teoria da auto-eficácia
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A confiança do estudante prediz o esforço para
aprender e o seu rendimento.
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Eu trabalho bastante neste assunto porque sou
bom, sou capaz de fazê-lo.
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Pedir aos pares que modelem situações de
aprendizagem com chaves positivas de eficácia.
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Teoria da atribuição
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Os estudantes que atribuem o êxito e o fracasso
ao esforço trabalham mais e rendem mais que aqueles que o atribuem às suas
aptidões.
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Eu trabalho bastante neste assunto porque sei
que o meu esforço me vai recompensar. Se fracasso é porque não investi o
suficiente.
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Evitar sinais de condescendência como pena ou
simpatia quando o estudante fracassa.
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O que se pede aos educadores é que auto-vigiem o abuso e façam acontecer o currículo evitando que algumas crianças se distanciem dos saberes veiculados" (Libório, 2010).
domingo, 22 de abril de 2012
Ler para...
Ler para …
sábado, 21 de abril de 2012
quarta-feira, 18 de abril de 2012
Português e Matemática
Jorge Buescu
terça-feira, 17 de abril de 2012
Falando do Novo Acordo Ortográfico
Nem sempre nos apetece ou gostamos de falar do que não nos agrada muito ou do que sabemos pouco.
Uma coisa sabemos, estamos de acordo com a defesa da língua portuguesa bem escrita, com ou sem acordo ortográfico.
Começámos a ver-nos como um “Velho do Restelo” e aos poucos, mesmo inconscientemente, vamos lendo uns artigos, a favor ou contra, que a comunicação social de vez em quando, e dependendo do mediatismo dos autores, nos impõe. Inconscientemente também vemos os programas da televisão que tratam deste assunto (e grande vitória, não fazemos Zapping), um dos quais com a Dr.ª Edite Estrela que ao abordar este tema foi bastante esclarecedora.
É frequente a publicação de obras, por vezes por autores de renome, que não respeitam as regras de pontuação, o que as torna de difícil leitura e interpretação, sem que os leitores teçam críticas a tal forma e escrita.
Pelo meio, surge a decisão de Vasco Graça Moura em não aplicar o Novo Acordo nos serviços do CCB. A notícia foi manchete em toda a comunicação social e fez reaparecer de imediato a polémica em torno das novas regras ortográficas. É cada vez mais frequente a publicação de artigos de opinião sobre o atual acordo ortográfico com posições opostas.
Ao falarmos sobre este tema devemos ter presentes que ao longo dos anos já se fizeram várias tentativas de unificação da ortografia da língua portuguesa, sendo a primeira de 1911. Posteriormente surgiram várias tentativas, sendo a mais importante a de 1990. Contudo as línguas vivas caracterizam-se pela dinâmica e pela sua evolução natural ao longo do tempo, consoante as influências sociais e culturais dos períodos históricos independentemente da existência de acordos ortográficos.
Com a globalização, com os novos meios de comunicação e com as constantes mudanças económicas e sociais, cada vez mais aparecem palavras novas ou mudança na grafia de outras. Estamos rodeados de meios de comunicação social cada vez mais rápidos e sofisticados que nos colocam perante novos termos que naturalmente se integram no nosso vocabulário.
Se no campo da comunicação as palavras soltas não têm uma importância relevante, no campo das novas tecnologias são determinantes. A informação é o novo poder dos nossos tempos. Quem mais depressa a possuir mais e melhor partido dela pode tirar.
Pelo que conhecemos da evolução da nossa língua, consideramos que as regras deste novo acordo não são impeditivas de uma aprendizagem e adaptação fácil, independentemente das críticas que lhe possam ser feitas.
Entendemos que a aprovação de um acordo ortográfico deve envolver uma ampla discussão com vista a obter um consenso na sua aplicação por forma a conseguir uma transição pacífica para a nova forma de escrita.
Pensamos que, com a nossa prática de formação ao longo da vida, enfrentamos com grande facilidade os desafios que são colocados, nos adaptamos a novas situações e enfrentamos com naturalidade a aplicação de qualquer acordo ortográfico. A frequência da ação de formação (FEP) que inclui um tema sobre o Novo Acordo Ortográfico é a demonstração da nossa adaptação à mudança.
Talvez este desabafo sirva de exemplo para os que, como nós, assobiavam para o lado, quando este tema era abordado.
Começamos a acreditar e mais cedo ou mais tarde nos adaptamos à nova grafia, escrevendo exatamente como até hoje, sem erros, pois como toda a gente, não gostamos de errar.
Graça Gomes
( Trabalho individual )
segunda-feira, 16 de abril de 2012
Um cê a mais
Quando eu escrevo a palavra ação, por magia ou pirraça, o computador retira automaticamente o c na pretensão de me ensinar a nova grafia. De forma que, aos poucos, sem precisar de ajuda, eu próprio vou tirando as consoantes que, ao que parece, estavam a mais na língua portuguesa. Custa-me despedir-me daquelas letras que tanto fizeram por mim. São muitos anos de convívio. Lembro-me da forma discreta e silenciosa como todos estes cês e pês me acompanharam em tantos textos e livros desde a infância. Na primária, por vezes gritavam ofendidos na caneta vermelha da professora: não te esqueças de mim! Com o tempo, fui-me habituando à sua existência muda, como quem diz, sei que não falas, mas ainda bem que estás aí. E agora as palavras já nem parecem as mesmas. O que é ser proativo? Custa-me admitir que, de um dia para o outro, passei a trabalhar numa redação, que há espetadores nos espetáculos e alguns também nos frangos, que os atores atuam e que, ao segundo ato, eu ato os meus sapatos. Depois há os intrusos, sobretudo o erre, que tornou algumas palavras arrevesadas e arranhadas, como neorrealismo ou autorretrato. Caíram hifenes e entraram erres que andavam errantes. É uma união de facto, para não errar tenho a obrigação de os acolher como se fossem família. Em 'há de' há um divórcio, não vale a pena criar uma linha entre eles, porque já não se entendem. Em veem e leem, por uma questão de fraternidade, os és passaram a ser gémeos, nenhum usa chapéu. E os meses perderam importância e dignidade, não havia motivo para terem privilégios, janeiro, fevereiro, março são tão importantes como peixe, flor, avião. Não sei se estou a ser suscetível, mas sem p algumas palavras são uma autêntica deceção, mas por outro lado é ótimo que já não tenham. As palavras transformam-nos. Como um menino que muda de escola, sei que vou ter saudades, mas é tempo de crescer e encontrar novos amigos. Sei que tudo vai correr bem, espero que a ausência do cê não me faça perder a direção, nem me fracione, nem quero tropeçar em algum objeto abjeto. Porque, verdade seja dita, hoje em dia, não se pode ser atual nem atuante com um cê a atrapalhar. |
domingo, 15 de abril de 2012
A escrita
Maria Luísa Álvares Pereira, num artigo da Revista Noesis, 59, p.41, “Viver a Escrita em Português”, refere que “A escrita esgotou-se durante anos num ritual bem nosso conhecido e que […] consistia em fazer aos alunos propostas de escrita sobre determinados temas, limitando-se o professor a avaliar (com mais ou menos anotações) o produto final. […] [A escrita] não estava sujeita a um trabalho sistemático e instrumentando.”
Neste sentido, vale a pena refletir sobre um comentário de Fernanda Irene Fonseca em Gramática e Pragmática - Estudos de Linguística Aplicada ao Ensino do Português, quando, acerca da aquisição da competência da escrita, diz: "Por que é que os alunos não aprendem a escrever? Atrevo-me a responder, sabendo embora que incorro no exagero inerente a todas as generalizações: não aprendem a escrever pela razão simples de que, na escola, não se ensina a escrever."
Em primeiro lugar, é preciso acabar com o individualismo didático reinante nas escolas. A oficina de escrita deve ser o resultado de um trabalho de equipa formada por todos os docentes. Só assim se obtêm resultados.
Em segundo lugar, passa por textos planificados, escritos e reescritos em estreita interacção com os professores e, por vezes, com a colaboração de amigos.
[...] Pretende-se que se aprofundem os mecanismos progressivamente mais complexos da planificação, textualização e revisão dos diversos textos. É importante que, nesta fase, a escrita esteja subjacente a qualquer tipo de pensamento, comunicação e aprendizagem. O objetivo passará por usar a diversidade sintática na produção escrita, fomentar a revisão e a autocorreção, usar a pontuação de acordo com o que se pretende, organizar parágrafos de forma e extensão apropriados, estabelecendo entre eles relações lógicas, e, finalmente, escrever com correção ortográfica.
Para alcançar o atrás mencionado, os alunos poderão recorrer ao uso de dicionários, gramáticas, prontuários, corretores ortográficos, em suporte convencional ou digital. Deve ainda favorecer-se a utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação como ferramenta de aprendizagem e recurso documental para acesso à informação.
Nesta sequência, sugerem-se as seguintes atividades que podem conduzir à escrita:
• Turbilhão de ideias (fluência e flexibilidade de ideias, expressão livre).
• Jogo linguístico com palavras (romper o sentido unívoco da palavra, torná-la nova, reinventá-la).
• Desmontagem de frases (combinar de outro modo os elementos da frase).
• Leitura recreativa de imagens (traduzir uma imagem em mil palavras).
• Flexibilização mental (elaborar um discurso com sentido e organização sobre um objecto).
• Projetos vitais (planificar trabalhos a longo prazo ou planificação escrita de projectos de trabalho).
• Metaforização analógica (comparar o incomparável, ex: uma rã com um carro).
• Relax imaginativo (deixar correr o pensamento, sonhar acordado).
• Imitação transformativa (produzir anedotas, palavras de ordem, slogans publicitários, quadros cómicos, a partir de um modelo real).
• Completamento de frases, textos ou continuação da história.
• Reescrita do texto, transformando, por completo, a fisionomia de uma personagem.
• Ordenação lógica de um texto apresentado de forma desordenada.
• Diálogos ou comentários escritos sobre programas televisivos.
• Descrição de acontecimentos.
• Trabalhos intensivos (redação aberta, manipulação de textos, ditado, espaços em branco, comentário de texto, correção de texto).
• Trabalhos extensivos (trabalhos por tarefas – project work – oficina da escrita, entrevistas).
• Formulação de perguntas/questionários sobre textos lidos ou ouvidos.
• Escrita orientada (narração, descrição, exposição).
Desta forma, surge uma diversidade de tipologia de textos, contribuindo para o reforço da autonomia, da consciência crítica e da criatividade do aluno.