Registar
histórias e comunicá-las integra a história da humanidade, desde o tempo em que
não havia um código escrito para o fazer. Podemos buscar justificativas em
diferentes teorias, nomeadamente aquelas que procuram compreender a ação humana
em estreita relação com as necessidades do homem, mas também podemos simplesmente
constatar a natureza histórica desse facto e observar a evolução na forma e
estilos de o fazer. Impossível será não reconhecer a literatura como património
histórico e cultural da humanidade, imprescindível, portanto, à nossa
identidade de seres vivos do género humano.
A
literatura infantil surge a par com o nascimento da ideia de infância na modernidade
(Ariés, 1960), quando esta última se começa a reconhecer enquanto categoria
geracional distinta. Evidentemente, inicialmente a literatura era apenas
acessível a crianças leitoras, ou seja, às crianças das classes altas.
A
evolução trouxe a alfabetização generalizada e a democratização da literatura
infantil em sociedades ocidentais como a nossa. Hoje é acessível a quase todas
as crianças, sobretudo a partir do momento em que se tornam leitoras, dada a maior
facilidade com que têm acesso a livros em contexto escolar.
Os
estudos da década de 90 do século XX e do início deste século revelaram como o
acesso aos livros e a exposição a práticas pecoces de leitura é
determinante na qualidade do percurso de leitor (ver por exemplo as revisões da
literatura de Lourdes Mata), o que conjugado com os maus resultados obtidos por
Portugal em literacia, por essa altura, levou a um forte investimento político em
programas de incentivo à leitura através do acesso a livros, sobretudo em
contexto escolar. O PISA de 2009 revela uma evolução significativa por comparação
com o estudo de 2000 dos níveis de literacia entre a população estudantil. Uma
relação de causa efeito?
Independentemente
do apuramento dos efeitos desses programas, podemos buscar fundamento para a
importância da literatura infantil em argumentação já sustentada em
investigação. Ou seja, o uso pedagógico da literatura infantil, que historicamente encontramos associado à
educação moral das crianças, é hoje reconhecido como aliado do educador porque fornece modelos e ideias, alarga o
tipo de experiências das crianças proporcionando-lhes conhecimentos que muitas
vezes não conseguiriam obter por vivências diretas, «abre o apetite» para os
livros e desperta novos interesses, ensina as crianças a lidarem e manusearem os
livros, apoia as crianças na construção de muitos conceitos sobre a escrita e
aumenta o seu vocabulário (Galda & Cullinan, citados por Mata, 2008).
São estes últimos argumentos que levaram as educadoras do agrupamento da
Carapinheira a colocar duas linhas de ação no PAA dedicadas ao uso de
literatura infantil em contexto de sala de atividades: “ler histórias no jardim de infância”, que
pretende alargar a intervenção a outros agentes da comunidade educativa; e o
“projeto 2 histórias”, que visa fazer uma sistematização didática de pelo menos
dois textos em todas as salas de atividades ao longo do ano. Há ainda a realçar
a “leitura em vai e vem” (proposta do PNL) que deseja levar as famílias a participar semanalmente
no projeto de cada criança leitora, para além do investimento particular em
literatura infantil que cada educador faz na sua prática diária.
Um começo bem intencionado, com a consciência de que ainda há muito para fazer.
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